Diversidade e inclusão: reconhecer as intersecções entre marcadores identitários é essencial para as empresas

Tema esteve em pauta no primeiro Diálogos da Rede ANBIMA de Diversidade e Inclusão, evento online que integra a agenda de encontros para 2023

Os marcadores identitários, como raça, identidade de gênero, orientação sexual, geração e pessoas com deficiência, podem se sobrepor e gerar um acúmulo de barreiras enfrentadas por uma mesma pessoa na sociedade atual. Esse foi o tema do primeiro Diálogos da Rede, encontro da Rede ANBIMA de Diversidade e Inclusão, que reuniu cerca de 110 representantes de instituições dos mercados financeiro e de capitais.

“Compreender a interseccionalidade das identidades também nos permite analisar a complexidade dos desafios. Uma pessoa negra que é mulher e do grupo LGBTQIAPN+, por exemplo, enfrenta múltiplas discriminações e níveis de injustiça social. Não olhar para isso e não perceber essas diferenças é ampliar as desigualdades de oportunidades”, alertou a consultora Margareth Goldenberg.

Não reconhecer os efeitos da interseccionalidade pode resultar em desnível salarial, discriminação na contratação, falta de desenvolvimento profissional, aumento do assédio sexual, alta rotatividade nas equipes, dentre outras consequências negativas para as corporações.

Para enfrentar este desafio, Margareth acredita que é necessário se atentar ao fato de que, por exemplo, nem todas as mulheres passam pelas mesmas experiências na empresa. Ou seja, adotar uma abordagem única para fomentar a diversidade e inclusão em ambientes em que existe a interseccionalidade pode comprometer os resultados esperados.

É preciso desromantizar o tema

Guilherme Bara, consultor de diversidade e compliance, que tem deficiência visual desde os 15 anos, trouxe provocações para ampliar as reflexões dos participantes. “Crenças estão muito enraizadas na gente. Você chega na empresa e a liderança te diz: ‘quero que você valorize a diversidade’. Mas valorizar com base em quê? No que sua família te ensinou? No que o líder da sua religião prega? Isso gera muita insegurança na pessoa responsável por essa tarefa. Quem diz o que é certo ou errado não são as nossas crenças, mas as regras, os valores e as diretrizes, o código de ética da empresa”, afirmou.

Para ele, atualmente as pessoas estão mais preocupadas com a narrativa do que com o que é mandatório, ou seja, aquilo que é irrefutável, como o respeito absoluto às características dos diferentes marcadores identitários. O racismo é crime previsto por lei, portanto, inaceitável. Guilherme também evidenciou a maneira como os temas de diversidade e inclusão muitas vezes são colocados em discussão, com pouca empatia e gerando resistências entre as pessoas não pertencentes aos grupos minorizados.

O especialista acredita que houve muitos avanços em relação às pessoas com deficiência no mundo corporativo, mas ainda é preciso desromantizar essa questão. Os PcDs são, muitas vezes, vistos como heróis ou como muito frágeis e, para Guilherme, existem profissionais que não dão conta de trabalhar ao lado desses indivíduos cujos desafios são concretos.

Portanto, ao buscar um PcD no mercado, é importante ser honesto e transparente com o gestor, porque, em certas situações, alguns desses profissionais podem ter o mínimo necessário para determinada vaga, mas é possível desenvolvê-los com o apoio da gestão. Ou seja, envolver a liderança da equipe para que se sinta motivada e responsável por esses colaboradores, com mais segurança para assumir o processo de adaptação e formação.

Boas práticas para lidar com a interseccionalidade

Para estimular a adoção de boas práticas, representantes de duas instituições do mercado apresentaram cases de sucesso relacionados ao tema. Daphne Breyer, head de ESG da BB Asset Management, compartilhou experiências com a criação do Fórum de Diversidade e Inclusão, em 2021. “Percebemos que os debates sobre o tema eram diferentes em cada área e precisávamos encontrar meios de construir uma narrativa positiva para todos”, contou.

Foi definida uma governança corporativa envolvendo diferentes instâncias. Os 60 voluntários, pouco menos de 20% do quadro de funcionários, formaram cinco grupos de afinidade. O fórum é composto por representantes das áreas de administração fiduciária, gestão corporativa, soluções de pessoas e ambiência, ESG e pelos coordenadores dos grupos de afinidades, que levam pautas e sugestões para o grupo.

As reuniões são periódicas, com calendário anual de ações, contando sempre com um olhar de especialistas. As resoluções são encaminhadas à diretoria da empresa. Atualmente, estão construindo um diagnóstico estruturado, com apoio de consultoria, para realizar dois eventos de sensibilização e desenhar um plano tático de execução das ações, com o objetivo de fortalecer diversidade e inclusão em todas as áreas da corporação.

Mayara Marcanzoni, especialista em Diversidade e Inclusão do Sicredi, apresentou o Programa Viva Toda Gente criado em 2020 e implementado nos centros administrativos de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e em Cabedelo, em Pernambuco. O ponto de partida foi a aplicação de um censo para mapear a situação da diversidade da empresa e definir treinamentos que pudessem apoiar o avanço da pauta. O programa buscou uma forma mais tangível de atuação, que fizesse sentido para o negócio.

Em 2022, a Fundação Sicredi revisou a política de sustentabilidade da empresa, o que resultou em diretrizes comuns para toda corporação. “Isso nos levou a um outro nível de conversa. Testamos hipóteses e colhemos aprendizados, incorporando-os em práticas e manuais para tornar política o que deu certo. Também criamos indicadores para um dashboard. Foi a fase de rever a governança em D&I e detectar o que funcionava e o que precisava mudar”, explicou Mayara.

A formação é outro aspecto importante do programa, que desenhou uma trilha de D&I com nove cursos para os colaboradores dos grupos de afinidade aprimorarem a visão interseccional de toda a organização. Outros materiais também são fruto do programa, como um guia de termos e expressões que não devem fazer parte do vocabulário; guia para acolher pessoas trans; publicação com orientações dos benefícios do Sicredi para as famílias, dentre outros.

A governança do Viva Toda Gente envolve três pilares: liderança de grupos de afinidade; comitê consultivo, formado por lideranças que apadrinham um grupo de afinidade; e diversidade de gestão de pessoas, que é o secretariado do comitê e dos grupos de afinidade. Tem como tarefa fazer a ponte com outras áreas e com o time de gestão de pessoas, que atende as equipes na ponta, oferecendo orientações e apoio para as demandas cotidianas.

Conheça a Rede ANBIMA de D&I

A Rede ANBIMA de Diversidade e Inclusão busca fomentar os temas nos mercados financeiro e de capitais. A partir deste ano, qualquer pessoa de instituições do setor pode fazer parte da plataforma – em 2022, ela era restrita a associados. O objetivo da mudança é estimular ainda mais a transformação do nosso mercado, com o aumento da representatividade e do estímulo à adoção da cultura inclusiva.

“A Rede serviu de benchmark para novas estratégias da ANBIMA. Lançaremos uma Rede de Sustentabilidade para discutirmos a agenda da Associação de forma mais ampla e também transformamos nossos grupos de discussão de educação em uma rede”, contou Marcelo Billi, nosso superintendente de Sustentabilidade, Inovação e Educação, na abertura do evento. “Tem sido uma experiência exitosa que usamos como exemplo para discutir temas correlatos por aqui, e muito disso se deve ao engajamento dos nossos associados e de instituições que estão entrando na plataforma”, disse.

Quem tiver interesse em participar da Rede de D&I deve entrar em contato pelo e-mail rededei@anbima.com.br informando nome, instituição e área de atuação.

+ Conheça a agenda de iniciativas da Rede ANBIMA D&I para 2023

As iniciativas da Rede fazem parte da agenda estruturante do ANBIMA em Ação, conjunto de atividades que elegemos como prioritárias para o biênio 2023/2024.

Conheça o ANBIMA em Ação

ANBIMA em Ação é o conjunto das principais iniciativas da Associação para este e o próximo ano. Esse planejamento estratégico foi elaborado a partir de uma ampla consulta aos nossos associados, instituições parceiras, reguladores e lideranças da ANBIMA e resultou em três grandes agendas de trabalho: Agenda de Desenvolvimento de Mercado, Agenda de Serviços e Agenda Estruturante. Confira cada uma aqui.