A educação – inclusive a educação financeira – tem papel decisivo na transformação da vida das mulheres e para a ampliar a presença feminina nos mercados. Foi esse o tema do café da manhã que aconteceu com mais de 65 mulheres no dia 12 de março no nosso escritório em São Paulo, em parceria com a Fin4She. De origens e experiências diversas, elas compartilharam reflexões sobre a necessidade de atuação em conjunto e do reforço das parcerias com o mercado para abrir as portas às jovens que querem trabalhar nas instituições financeiras.
“Os mercados financeiro e de capitais continuam tendo um perfil muito masculino. Considerando dados relativos às certificações concedidas pela ANBIMA, na distribuição de produtos de investimento 50% das profissionais são mulheres, percentual que cai a apenas 8% no caso das certificações de gestão de recursos”, afirmou Tatiana Itikawa (foto), nossa superintendente de Representação Institucional.
Mesmo diante dos inegáveis avanços da agenda de equidade de gênero no Brasil, o país ainda está longe da plena inclusão feminina nos mercados financeiro e de capitais. Melhorar o acesso das mulheres a esses mercados usando o poder da educação como ferramenta é o propósito do nosso trabalho com a Fin4She, plataforma que conecta, inspira e impulsiona profissionais para transformação dessa realidade.
Ao fim do evento, as participantes puderam fazer uma foto corporativa profissional para atualização de redes sociais profissionais – a exemplo do LinkedIn – que são aliadas na realização de networking corporativo.
Durante o evento foi lançada a edição de 2024 do Young Women Summit, programa em que somos parceiros da Fin4She, como uma das iniciativas da Rede ANBIMA de Diversidade e Inclusão. A ideia da junção dessas forças é oferecer às jovens acesso a capacitação, desenvolvimento profissional e networking com empresas comprometidas com a equidade de gênero e racial, de forma que elas possam avançar na carreira e conquistar cargos de liderança que hoje estão majoritariamente ocupados por homens.
O programa é uma trilha de formação 100% online, para que jovens de todo o país possam se inscrever, que começa em abril e vai até o final do ano, com masterclasses, sessões de mentoria, curso preparatório e a oferta de uma boa de certificação ANBIMA para todas as participantes. O programa foi desenhado para oferecer às jovens uma rede profissional valorizada, desenvolvimento de habilidades, empoderamento financeiro, fortalecimento de confiança, reconhecimento e visibilidade.
É preciso ter entre 18 e 30 anos (ou até 35, no caso de mulheres pretas e pardas) e estar cursando ou ter concluído um curso de ensino superior há no máximo 5 anos. As inscrições vão até o dia 1º de abril de 2024 e o anúncio das selecionadas será em 8 de abril. Segundo Cavenaghi, 300 jovens já se inscreveram no pré-lançamento. O objetivo é que o Young Women Summit seja uma porta de acesso de mulheres aos mercados. Por isso, qualquer empresa ou pessoa física pode contribuir ampliando o número de vagas, ação alinhada com a agenda de diversidade e inclusão. Para patrocinar a iniciativa, basta acessar o site e clicar em “Quero apoiar”. Em caso de dúvidas, entre em contato com a Fin4she.
Educação financeira para a liberdade
No desenvolvimento profissional das mulheres, um tema precisa ser recorrente: a educação financeira, ferramenta fundamental para que possam de fato ter liberdade para fazer escolhas e forças para sair de situações de dominação masculina e de relacionamentos tóxicos, inclusive com a família.
“Precisamos falar de liberdade, para promover uma mudança de mentalidade que permita às mulheres a independência financeira suficiente para refletirem sobre a própria trajetória e decidirem o que desejam fazer da vida”, observou Jandaraci Araújo (foto) conselheira independente e cofundadora do Conselheira 101. Esse tema está inserido no escopo da capacitação e da mentoria do Young Women Summit deste ano, que inclui treinamentos para as certificações ANBIMA.
A fundadora e CEO da Fin4She, Carolina Cavenaghi, lembrou que a independência financeira é que deixa as mulheres com mais coragem para tomar decisões, escolhendo a trajetória de vida segundo os próprios desejos e inclinações, sem ficar atendendo o tempo todo às demandas de outras pessoas. “Nunca falaram com a gente sobre educação financeira, que é muito mais do que simplesmente poupar um dinheirinho. Precisamos olhar de maneira holística para o assunto”, disse.
Gênero e raça: agendas transversais
Se faltam mulheres nos mercados, faltam ainda mais mulheres negras. Nesse sentido, a agenda de equidade racial perpassa as iniciativas em prol da equidade de gênero. É por isso que, neste ano, patrocinamos 25 vagas exclusivas para jovens pretas e pardas no Young Women Summit. “Queremos estimular equidade de gênero e nosso objetivo é sair do discurso e ir para a prática. Por isso apoiamos a Fin4She na ampliação do Young Women Summit”, ressaltou Itikawa. Além disso, vamos ofertar bolsas de certificação para todas as participantes do programa, assim como foi feito em 2023.
Cavenaghi explicou que a seleção das candidatas não será baseada apenas em currículos. “Vamos fazer uma seleção de histórias de vida”, afirmou. Não por acaso, mulheres com ricas histórias foram convidadas para falar durante o lançamento do programa. Todas profissionais de destaque nos mercados e no mundo corporativo e que creditam o sucesso de suas trajetórias em boa parte ao poder da educação.
Araújo, por exemplo, cresceu ouvindo o pai dizer que o que poderia deixar para os filhos era educação. Levou a sério o mantra, sem ter desconsiderado um outro aspecto que considera fundamental: a atuação em rede. “A educação é uma grande ferramenta, mas não pode estar sozinha. Precisamos atuar em rede, como já fazem as mulheres negras no Brasil há séculos, umas ajudando as outras”, comentou. Essa atuação em rede a que ela se refere inclui desde o incentivo às mulheres empreendedoras, inclusive priorizando a compra de produtos e serviços dessas mulheres, até elogios ao trabalho de colegas e parceiras.
“Vamos prosperar em termos coletividade feminina apenas se a gente se ajudar, olhando para outra mulher conseguindo elogiar o trabalho dela. Tento sempre praticar isso, elogiando e reconhecendo o trabalho de outras mulheres, que sentem as mesmas dores”, complementou Julya Wellisch, nossa diretora e líder da Rede ANBIMA de Sustentabilidade.
Paulistana da periferia da zona leste, Viviane Elias (foto), head de operações, riscos e governança na Circular Brain, contou ter sido formada por um bom acesso à educação básica. Ainda menina, ganhou bolsa para fazer o equivalente ao ensino fundamental nos anos 1980-1990 num colégio particular paulistano e conseguiu atender ao anseio dos pais – “uma certa ostentação” – de ter “filhos doutores”. Ela se encaixa em geração de mulheres negras que carecia de representatividade, cenário que hoje é diferente devido à existência de cada vez mais programas que incentivam a capacitação apoiam a inserção feminina entre as lideranças das empresas.
Julya Wellisch (foto abaixo), nossa diretora e líder da Rede ANBIMA de Sustentabilidade, também atribui sua jornada profissional à educação. “Isso sempre fez a diferença na minha vida. A educação foi determinante, assim como o estímulo que recebi da minha família para a educação continuada”, disse. Cursou Direito pensando em ser servidora pública: prestou concurso e entrou na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para atuar como procuradora. Ancorada por anos e anos de estudo, decidiu deixar o serviço público e desde 2017 está na Vinci Partners, onde hoje responde pela área de compliance e jurídico. Ela observou que o planejamento financeiro foi muito importante para a decisão de sair do setor público, em que existe uma certa estabilidade financeira.
Jovens mais preparadas, capacitadas e treinadas pelas mentoras, no entanto, não têm como fazer tudo por conta própria: elas também precisam encontrar um ambiente receptivo nos mercados financeiro e de capitais. Nesse sentido, é importante que sejam criados canais de diálogo com as empresas, para que elas criem consciência da necessidade do desenvolvimento de ações de inclusão. “Temos que pensar o que as empresas podem fazer para aumentar a representatividade, com ações afirmativas como a oferta de vagas para mulheres, mulheres negras e outros públicos invizibilizados”, disse Wellisch.