A diversidade requer uma adequada gestão de pessoas e uma cultura pluralista das companhias. Além disso, é necessário ter ações claras de aceleração da formação técnica e ter métricas para medir o quanto as empresas estão engajadas na causa. Essa foi a tônica do painel “Precisamos falar de diversidade no mercado financeiro”, na última edição do ANBIMA Summit.
“Obter igualdade é complexo; e nada mais desigual que tratar todos de forma igual. É a partir do tratamento diferenciado, pela equidade, que atingimos a diversidade. Mas existe no mercado uma preferência pela homogeneidade”, disse Hélio Santos, um dos criadores do Pacto de Promoção da Equidade Racial.
Contudo, ao elaborar políticas para promover esta inclusão, as empresas não podem pasteurizar a diversidade. “Você atrai pessoas de diversas origens e, quando eles vêm, você pasteuriza todos, em vez de aproveitar esses talentos. A diversidade requer gestão e pede uma cultura pluralista”, ressaltou Santos, acrescentando a necessidade de igualdade de oportunidades para pessoas diferentes.
Em estágio inicial
Tida como o grande motor de geração de inovação e prosperidade das companhias, a diversidade ainda engatinha no mercado financeiro. “Quando olhamos as empresas listadas, muitas não têm mulheres na liderança; isso sem falar de negros”, apontou Carolina da Costa, sócia da Mauá Capital.
Estudos recentes mostram o quanto as empresas lucram mais com a diversidade. “É bom ter pessoas de realidades distintas, mas, apesar de termos argumentos a favor, ainda temos um longo caminho a percorrer”, disse Carolina. Além disso, diversidade não se trata apenas de atrair pessoas, mas retê-las e contribuir para a formação. Nesse sentido, ela defendeu que é necessário levar em consideração as lacunas educacionais do Brasil.
O mercado financeiro, em especial, requer formação específica para a maioria dos cargos. “Os executivos do mercado financeiro não poderiam oferecer o tempo deles para a formação, trazendo o jovem o quanto antes para ele ter o atraso de formação compensado com as novas capacidades técnicas?”, destacou a sócia da Mauá Capital.
Ter ações claras de aceleração das carreiras das pessoas que vêm de realidades muito diferentes e que precisam de formação técnica é crucial, na visão de Gilberto Costa, head de private bank do JP Morgan. Costa adiantou que a ANBIMA começou um estudo para fazer o diagnóstico da maturidade da indústria quanto à diversidade nos variados segmentos. “Cabe a nós, enquanto indústria, o papel de construir uma rede de articulação e de puxar esta agenda, de nos conectar com outras iniciativas em andamento”, disse.
Nesse sentido, Carolina defende que haja cobrança por métricas melhores para efetivamente medir o quanto as empresas estão se engajando em incluir a diversidade. Além disso, ela reforçou que cabe também à iniciativa privada o comprometimento para formação de mão de obra. “O investimento social privado no Brasil é muito pequeno, é papel do governo, sim, mas a iniciativa privada pode catalisar esforços”, disse.
Com relação ao espaço das mulheres no mercado financeiro, apesar de ter aumentado nos últimos anos, representa ainda entre 20% e 30%, segundo apontou Sandra Blanco, estrategista-chefe da Órama. “Tem muito ainda para fazer”, disse. “Mas as mulheres estão se ajudando, fazendo ações e medidas e sendo inspiração para outras mulheres. É isso que vai ajudar. As empresas precisam ter mulheres nas suas posições de lideranças”, acrescentou.