Abrir vagas é só o primeiro passo para aumentar a presença de lideranças femininas e negras nas empresas

Iniciativas que de fato contribuem para a inclusão desses grupos em cargos de gestão foram o tema do primeiro debate do ano da Rede ANBIMA de Diversidade e Inclusão

Notícia 14 de maio de 2024

Muitas empresas já se deram conta da importância da pauta de DE&I (diversidade, equidade e inclusão), mas ainda se limitam a apenas abrir vagas para a contratação de mulheres, pessoas negras e outros grupos sub-representados. Para aderirem a essa agenda de maneira genuína e assertiva, no entanto, precisam ir além, adotando práticas e iniciativas que de fato garantam a atração e a permanência desses profissionais ao longo do tempo, além da inclusão desses grupos em cargos de liderança. Esse foi o tom do debate que abriu o primeiro Diálogos da Rede deste ano, promovido pela Rede ANBIMA de Diversidade e Inclusão, com participação de cerca de 100 pessoas.

“Ao contrário de muita coisa que acontece no mercado corporativo, aqui na Rede não estamos preocupados com a competição: a agenda de diversidade e inclusão é realmente um tema em que podemos ser transparentes, trocar experiências, copiar uns aos outros e evitar os erros que já cometemos”, disse Marcelo Billi, nosso superintendente de Sustentabilidade, Inovação e Educação, ao explicar a atuação colaborativa da Rede.

Na avaliação da consultora de diversidade e inclusão Margareth Goldenberg, mediadora do encontro, é preciso que as empresas tenham intencionalidade ao planejar suas ações voltadas a essa pauta, com atenção a aspectos como qualificação, adaptação do ambiente de trabalho e conexão com organizações e entidades que atuam na inclusão de mulheres, negros, pessoas LGBTQIAP+ e pessoas com deficiência no mundo corporativo, entre outros grupos.

+ Assista ao evento completo na área logada do site da Rede D&I

É importante lembrar que, quando pessoas minorizadas ocupam cargos de gestão, contribuem de maneira crucial para disseminar uma cultura corporativa inclusiva — afinal, elas servem de referência e têm a empatia necessária, pela experiência pessoal, para lidar com situações envolvendo questões de diversidade.

 A importância das conexões

É comum que as empresas tenham interesse em melhorar em aspectos de diversidade e inclusão, mas tenham dificuldades para encontrar os profissionais de que precisam. Daí vem a importância das conexões com organizações que, no dia a dia, atuam na seleção, formação e treinamento de profissionais que possam ocupar esses espaços nas empresas, particularmente no mercado financeiro. Conheça algumas iniciativas:

  • Criar oportunidades de inclusão produtiva está entre os objetivos da Generation No país desde 2019, a organização atua em 18 países, mapeando oportunidades de 40 profissões em seis setores. Como explica a CEO, Andrea Matsui, o foco está na inclusão de jovens, preferencialmente nos segmentos de tecnologia (que tem um histórico gap de talentos), vendas e varejo, tradicional porta de entrada para jovens em vulnerabilidade social. Segundo a executiva, alguns talentos que passaram pelo programa já estão chegando a cargos de gerência.
  • Em uma linha similar, o Black Finance tem a missão de promover diversidade racial no mercado financeiro, levando oportunidades para jovens negros. O projeto parte da ideia de que o acesso tem uma importância central, já que, no Brasil, ainda são fortes questões como racismo estrutural, institucional e com outras faces. Com aulas presenciais, mentoria e eventos em empresas, o Black Finance já conseguiu a alocação de 28 alunos em instituições financeiras em dois anos de atuação. O objetivo é se tornar o maior ecossistema de profissionais negros do setor. A equipe é 100% voluntária e o trabalho é custeado exclusivamente por doações.
  • A iniciativa Indique uma Preta presta consultoria para empresas interessadas em avançar na inclusão de mulheres e negros. O projeto atua em duas frentes: consultoria em diversidade e inclusão, mapeando desafios e oportunidades conforme a realidade de cada empresa; e comunidade, envolvendo acolhimento e empregabilidade. Dessa forma, a iniciativa viabiliza bolsas de estudos e promove eventos e workshops para conectar empresas e pessoas minorizadas que querem entrar no mercado.

Iniciativas das instituições do mercado

As instituições financeiras também têm feito a lição de casa, cada uma em um grau de maturidade diferente, refletindo contextos, tamanhos e realidades particulares. Conheça algumas experiências.

O Itaú vem construindo uma estratégia robusta, compatível com uma instituição que tem cerca de 100 mil funcionários. Para cumprir metas assumidas publicamente, o banco conta com ações como grupos de afinidade (de gênero, raça, pessoas com deficiência, LGBTQIA+), que ajudam as lideranças a entender as demandas e a testar possíveis soluções.

“Precisamos também compreender os momentos de cada área do banco”, disse Luciana Pereira Melo, líder de Diversidade e Inclusão e Programas de Entrada no Itaú, contando que a instituição tem parcerias e conexões com várias organizações, como Indique uma Preta, Fin4She, Generation Brasil, entre outras, além de eventos no Cubo e indicação de executivas para participar de seminários e conferências. O banco oferece trilhas de aprendizagem relacionadas a diversidade e inclusão na universidade corporativa, promove eventos voltados aos homens (como uma live anual com o Papo de Homem), mapeia coletivos negros nas universidades para convidar jovens para processos seletivos e patrocina certificações CPA-10 e CPA-20, entre outras iniciativas.

Estratégia baseada em dados

No banco Safra, a jornada começou em 2021, com um censo interno de diversidade que mostrou que havia abertura, interesse e curiosidade das pessoas, como conta Patrícia Frischinetti, executiva da área de RH. Depois foram criados o Comitê ESG, o relatório de sustentabilidade e a política de diversidade, equidade e inclusão em 2023.

Atualmente, o Safra promove semanas de diversidade, com participação crescente a cada ano, abordando temas como vieses, letramento racial, síndrome do impostor; trabalha com um calendário de conscientização em datas comemorativas; produz conteúdos para a J. Safra Academy; capacita líderes; fornece treinamentos sob demanda para as áreas; e faz planos de desenvolvimento específicos. “Quando uma área chama a equipe de diversidade, é sinal de que o líder está engajado, então atendemos prontamente”, afirmou Frischinetti.

Formação no início da carreira

Foi também em 2021 que o banco Fibra aderiu a essa agenda. Com 310 colaboradores, a casa tem uma forte aposta no programa Geração Fibra, de estágio afirmativo. Segundo Carlane Santos Saldanha, analista de DE&I, trata-se de uma iniciativa com o objetivo de desenvolver jovens que, no futuro, possam se tornar executivas do banco. O programa atualmente em curso termina em junho, com absorção das participantes pelo Fibra. Quando chegam de fato ao dia a dia da operação, elas têm padrinho ou madrinha na área em que foram contratadas.

Metas para transformar equipes

Engajado há anos na agenda de diversidade e inclusão, o banco Santander alcançou números como 71% de pretos e pardos no programa de estágio e de 75% no programa de jovem aprendiz. Tendo como base a ideia de que os programas de diversidade e inclusão devem impulsionar a progressão de carreira, o Santander estabeleceu metas como 40% de mulheres na alta liderança até 2025, além de ampliar a presença de pessoas negras e letrar a organização nessa agenda. Segundo Camila de Carvalho Dias, da área de gestão de talentos, a intenção é evitar a dinâmica da porta giratória, em que as pessoas entram, mas logo saem da organização.

Daniela Chagas, líder na área de RH do Santander, destacou que o banco está engajado em um programa de liderança, gênero e raça, com um olhar de longo prazo. “A jornada inclui autoinscrição, kick-off, apoio dos sponsors, mentoria de executivos voluntários convidados, trilhas de capacitação na Universidade Santander, participação em webinars, consultoria parceira sobre gênero e raça e encontros intergrupos, entre outras atividades”, disse.

Próximos encontros

Esse foi o primeiro dos eventos da Rede em 2024. O próximo encontro está agendado para o dia 29 de maio: será um workshop sobre equidade e letramento racial com o Pacto de Promoção da Equidade Racial. Confira a agenda completa.

Para participar, é preciso ser um integrante da Rede, plataforma que fomenta a diversidade, equidade e inclusão nos mercados financeiro e de capitais. O foco das atividades são profissionais que atuam em instituições financeiras nas áreas de gestão de pessoas, sustentabilidade, diversidade e inclusão ou que tenham poder gestor para promover a transformação dentro das casas. A Rede está aberta a qualquer instituição, associada ou não à ANBIMA. Para participar, basta preencher este formulário.

Conheça o ANBIMA em Ação

Essa iniciativa faz parte da agenda estruturante do ANBIMA em Ação, conjunto das principais atividades da Associação para 2023 e 2024. Esse planejamento estratégico foi elaborado a partir de uma ampla consulta aos nossos associados, instituições parceiras, reguladores e lideranças da ANBIMA. Confira aqui as nossas quatro grandes agendas de trabalho: Centralidade do Investidor, Desenvolvimento de Mercado, Agenda de Serviços e Agenda Estruturante.